As propostas escolhidas após a ideia primeira, foram (mais) simples. Pensei eu que, depois de dois anos e três meses de confinamentos e sustos vários, escolher as coisas banais que tanta falta nos fizeram, seria um bom propósito. Daí "Passear" foi a primeira.
É uma das coisas que mais me agrada fazer. Desanuvio das nuvens. Ou ninguém, na pacatez dos campos e montes, ou gente, mas de longe. Pareceu-me que este pé em riste representa bem este meu pensar: espreitar e admirar as paisagens. Do alto do Arco da Rua Augusta, em boa hora a tentação de lá subir venceu! O ar estava tão nítido que as fotografias surgiram de seguida, como um filme.
Claro que sobre este tema comum - passear e ver abismos, de que fiz uma ligação latina muito pessoal - arranquei outras fotografias ao pó dos anos passados, com tanto gosto de as rever!
Do "Sítio" na Nazaré há mais de 10 anos
Da "Boca do Inferno, estas há mais tempo, com a máquina que me cabia na mão
A segunda proposta foi "Ir ao museu ou ao parque". Não procurei muito... há uns meses tinha estado em Serralves. Uma saída, não para ver peças de museu mas para os belos jardins do Parque. Era Abril, tudo muito verde e sossegado, ainda havia camélias pelos caminhos serenos. O ensino do nome das flores e das árvores à minha gentil menina-neta, ela vai buscar uma das belezas amortecidas que caem e desfolha-a para mim, com risos. A perfeição do lugar e da companhia. Daí ter passado para a ideia gémea e seguinte: "Companhia"... Um privilégio discorrer sobre esses belos momentos:
O aparecimento do minúsculo insecto, tranquilo no seu pousar, de nos olharmos, eu-pessoa, ele-bicho-verde
Mas Serralves é uma tentação de passeio e em plena Primavera mais ainda!
A avenida dos Liquidâmbares que no Outono serão gloriosos estandartes apelativos nos seus tons de vermelhos, laranja, ocres. Vi que foram plantados há mais de 80 anos.Estas duas, acima e abaixo, fui encontrá-las mais longe, mais atrás no tempo: e era Outubro, já as primeiras folhas se desprendem para o tapete da estação mais bela, a fada dos bosques que prepara a terra e os seres para o isolamento e a solidão dos dias com pouca luz
A 3ª proposta - o mês de Maio era comprido e nestas coisas de contagens houve 5 quintas-feiras... - era "Aproveitar o dia".
Gosto muito destas fotografias da Lagoa da Foz do Arelho, há muitas, uma sequência de minutos, até o sol se esconder. Nesta em especial, gosto dos tons reflectidos, da sugestão das sombras na areia e do recorte das Berlengas com os Farilhões ao fundo.Muito poderia escrever sobre "aproveitar o dia": um bom filme ou um livro, um encontro com gente afável, andar pelos campos, florestas ou pela beira mar, andar e escutar as ruínas de muitas pedras velhas, conhecer uma cidade nova, ou reconhecê-la de outros passados. Um guia ou companhia impaciente porque me demoro, sair pela porta lateral "dos museus" quando já a principal está fechada. O que me acontece inúmeras vezes, uma corridinha para espreitar mais uma sala que falta e que levava na ideia...
Lentamente me desprendo, ou distancio talvez, dos gostos de andar por aí, da vista, do amor, da amizade; que nunca da curiosidade e do encantamento de aprender mais: com um actor, com um escritor, com um quadro, com uma paisagem.
4 comentários:
Lindo, bettips. Tenho assim várias fotos tiradas do Arco da Rua Augusta. Que o resto, fora Serralves, a coroa do Porto e que não deixo de visitar em cada vez que ali aporte e ainda tenha pernas, o resto, dizia eu, desconheço. Mas é lindo na mesma. Amo fundamente essa avenida dos Liquidâmbares, algo de mim está lá eterno e incorpóreo.
Bons passeios em Julho. E muitos desprendimentos desta natureza.
Um belo passeio pelas 5 semanas que nos coube viver em Maio à volta do teu desafio. Passear é viver, aprender, sonhar!
Já aqui tinha vindo e deixado um comentário mas ou desapareceu ou não cheguei a dar ordem de publicação. Dizia eu então mais ou menos isto: gostei do teu relato com alma sobre as escolhas feitas.
A fotografia do ponto vermelho sobressai. As explicações fazem-me parar nas fotografias, por um lado dou mais atenção ao conteúdo da mensagem/imagem, por outro lado corta-me a imaginação. É este o meu dilema perante as respostas aos desafios PPP: tentar perceber o que o participante quer dizer ou dizer ao participante o que a sua participação me provoca?
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