quarta-feira, janeiro 02, 2008

O Calendário






Tempo de os deitar fora e guardar as figurinhas dos meses, ignorando os sinais passados nos dias lestos.
Penso como as árvores: se a força me viesse da terra...talvez e sem data, me renascesse a seiva. Pelo ciclo das estações, uma sabedoria antiga e instintiva.

Gosto da teimosa Natureza, sobrevivente dos presságios.
Oxalá eu.

Fico sentada e aguardo esperança. Mas sendo que a pedra é a mesma, nota-se que afinal já não a tinha em pequena. A esperança. A espera, essa sim.

Será que se tornasse a ver pela quarta ou quinta vez "O Último Ano em Marienbad" perceberia, finalmente, no preto e no branco dos corredores vazios, como se mudam as ideias e se recolhem as memórias-pessoas-folhas-velhas?
Vou tendo as interrogações.

E cinicamente reparando nos modos alvares desta gente que emite sentenças: "a inversão da tendência decrescente", a propósito de mais de 800 mortos nas estradas portuguesas no ano de 2007. Pessoas e choros que não verão o novo ano, aparecendo como números simplificados que desmancham as percentagens.
Cada vez mais sinto a inversão dos valores.

23 comentários:

hfm disse...

Não sei se será a inversão de valores se a sua perda.

Depois falaste-me dum dos meus grandes filmes O último ano em Marienbad e contigo continuarei na senda das interrogações.

Isabel disse...

Que saudades de ti e de te ler!
De te ler e te sentir.
Sinto-te mais cheia de seiva de que tu te sabes.
Por vezes há que descobrir seiva escondida em nós, filões guardados.
Há que ser, permanecer teimoso/a como a natureza... curiosamente quero e vou escrevinhar algo sobre isso.
Busco seiva em mim também... irei encontrá-la a esperança que teimosamente mantenho indicar-me-a o caminho.

Vou sentar-me contigo e levo esperança no colo... vamos esperar juntas eu levo esperança para as duas e tu partilhas comigo a tua pedra.

Esperamos cheias de interrogações, partilhando esperanças, aguardando o renascer da seiva, vendo horas e dias a passar e agradecendo e amaldicoando a VIDA por isso.

Cheia de surpresas a vida.
Boas, más mas sempre surpresas.

Imvertem-se os valores e eu/nós viramos-nos, reviramos-nos por não inverter os nossos.
Ajustados, sim mas pouco, adaptados, sim mas mal, sobreviventes nós e os nossos valores às boas e más surpresas da vida.

Estou, sou, permaneço contigo aqui e ali...

Beijo d'alma

Isabel

Teresa Durães disse...

penso que é a perda de valores e o pouco significado qu se dá à vida humana. Não que tenhamos de seguir a corrente Humanística que é demais...

Respeitando a natureza (e sim, a terra dá força) pode ser que o equilíbrio apareça

Bom Ano para ti

Licínia Quitério disse...

O tempo em Marienbad... Como esse filme me tocou!
E este tempo de hoje, tão cínico, tão fora da nossa medida...
Vais recompondo o teu calendário. Numa amarga contemplação.

Beijos.

Justine disse...

E cada vez nos sentimos mais marginalizados,aqueles que ainda se regem por valores éticos.
Belíssimo texto, Bettips.

APC disse...

Acredito que seja mais a "perda de valores".
Imagens fantásticas como sempre Bet.
Um grande ano para a minha amiga.

Mr. Lynch disse...

Bettips;
Pior que a inversão dos valores, só mesmo a perda dos valores que penso que é o que caracteriza hoje em dia a nossa sociedade.
Abçs


PS: Por falar em calendários;
Para este ano ofereceram-me um calendário com imagens de pinturas do Klimt. Imagina que pintura figura no mês de Janeiro... Difícil, hem?
;-)

mena maya disse...

Nós que conhecemos os valores, que já vão parecendo caricatos e desafinam no cantar colectivo, temos que continuar a interrogar e a interregar-nos sobre o porquê da sua perca no seio da sociedade.
E procurar solucões, pequeninas individuais, que fazem andar a roda da mudança!
A força da árvore vem-lhe da terra, a nossa temos que a procurar no coração!

Um grande beijo Bettips,
lindíssima menina!

luis manuel disse...

Uma luz suspensa ... esperançosa, simples.
Tão simples, como um símbolo.
Da Lua e do Mar
E veio o Tempo, e guarda o Tempo. O tempo do calendário.
O tempo das estatísticas cínicas.
Mas... a pedra ? É a mesma ? É a da esperança pois. Da teimosa esperança que a Natureza nos permite. Ano após ano, de estação em estação.
Encontra a luz da "tal" Lua em cada folha do calendário, para um realizado ano de 2008

Um abraço

D. Maria e o Coelhinho disse...

happy new year, querida amiga!

um 2008 cheio de

LUZ


Baijo-te

Ruela disse...

Feliz 2008.

Zé-Viajante disse...

Os valores estão invertidos, a Vida(aquela que conhecemos,amamos)está virada do avesso e em contradição digo "no meu tempo não era assim" enquanto tenho uma Esperança Enorme na juventude que temos.
(O navio não meteu água. Meteu imagens bonitas vindas daqui e dalí...)

lésbica só disse...

Será que encontramos respostas revendo 4, 5, 6, n vezes L'année dernière à Marienbad? Prefiro ir recolhendo interrogações com os fósforos.
Bj

rui disse...

Olá Bettips


Se me dás licença, também me sento a teu lado e, fico a aguardar.

São as interrogações que nos ajudam a encontrar as respostas.

Beijinhos

un dress disse...

a inversão de valores, dizes. como não?

é lá´que necessariamente encontramos a força de sobreviver.

assumidamente.

e sim, no regresso ao primeiro dos primeiros lugares.

um imenso prazer aqui!! tudO :)



beijO

M. disse...

Na minha modesta opinião, é fácil inverter os valores, porque para os ter é preciso pensá-los e senti-los demoradamente. E a agitação e a pressa dos tempos contemporâneos não dá a pausa necessária para os digerirmos. E porque, cada vez mais, nada é linear.

M. disse...

E volto atrás para dizer que gostei daquela menina sentada na pedra à espera da vida.

Bichodeconta disse...

É sempre tão bom passar por aqui, parar e deliciar-me com as suas escritas..deixo um abraço, deixo também o desejo de bom ano..

jlf disse...

1. Uhi! Com que atraso já venho!
Só hoje começou, verdadeiramente, 2008, para mim. E só amanhã lhe vou ver a cara, pela primeira vez, na rua!

2. Se o devir dos dias fosse, como alguns garantem, remédio para muitos males, de que males sofreremos nós, cada vez mais, para cada vez mais os dias serem tão insuportáveis?

3. Alain Resnais não era dos que nos ofereciam imagenzinhas sossegantes e simpáticas... Era dos que mexiam connosco. Que nos faziam interrogar-nos, reflectir, discutir...

4. Quem é essa criança, de charmoso sorriso e de tão grande compostura, da terceira foto?
A Bet, imagina-se logo... Ou não será?

Repito: que 2008 doa menos.

jl

Manuel Veiga disse...

"Gosto da teimosa Natureza, sobrevivente dos presságios.
Oxalá eu".

quem me dera também!

nnannarella disse...

Estão ainda entre as árvores os seres mais resistentes. Sigamos o seu exemplo. De pé, como as árvores.
Calendário é nada; é convenção como o Tempo. Mas como objecto é romântico...:)

Quanto à "inversão da tendência decrescente"... falácias e manipulações.

Eu queria que os políticos se preocupassem deveras com a "coisa pública". Inshallah!

Eremit@ disse...

Vim, deliciado até aqui e aqui fui possuído por este excepcional texto.
Ao abrir lá estava/está "O Beijo" de Klimt e pensei: afinal a Bettips, é uma romàntica. Fortemente romântica ainda que as imagens e a escrita sejam belas e sensíveis escamoteiam esta vertente da tua personalidade.
É um direito teu, mas a reprodução do quadro de Klimt grita o que pretendes guardar.
Mas foi aqui que toda a força do teu ser e sentir me pegou, murro no estômago, levitação na alma. E cito-te: « (…) Penso como as árvores: se a força me viesse da terra...talvez e sem data, me renascesse a seiva. Pelo ciclo das estações, uma sabedoria antiga e instintiva.
Gosto da teimosa Natureza, sobrevivente dos presságios.(…)»
E sim.
Do que te vou conhecendo no que expões e expões conscientemente, fora o lado romântico,acho que não és menos "teimosa" do que anatureza, pelo menos nos capítulos viver e ser. Indissociáveis. E sim, também da terra-mãe/GAIA te vem a seiva e te renovas. Isto tu passas.
Grato.
Fraterno abraço e bom 2008

Amla disse...

e k belas imagens deste teu calendário...A menina sentada, mas em pose, serena mas sorrindo sabe-se lá a que pensamentos. Talvez sorrindo para o hoje que ela é no passar do calendário. E o texto no conjunto é mtº bom e belo, sendo k uma parte me fascinou e te vou roubar algumas fotos e este excerto do texto de uma beleza e força enormes: «Penso como as árvores: se a força me viesse da terra...talvez e sem data, me renascesse a seiva. Pelo ciclo das estações, uma sabedoria antiga e instintiva.
Gosto da teimosa Natureza, sobrevivente dos presságios.
Oxalá eu.
Fico sentada e aguardo esperança. Mas sendo que a pedra é a mesma, nota-se que afinal já não a tinha em pequena. A esperança. A espera, essa sim(...)». Vou roubá-los pdesejo fazer uma coisa com eles. Depois dir-te-ei.
Obrigada
Bjoca
Luz ao teu redor como na foto da infância