terça-feira, fevereiro 17, 2009

Quando





encalham em nosso cais as palavras doces e irónicas
dos poetas.
Há gente que dura tanto e homens que vivem tempo breve!

"Vivo com ele há anos suficientes
para poder dizer que o reconheceria
num dia de Novembro no meio da bruma
é como uma pessoa de família

adorava os pais mas tinha medo
quando zangados se punham aos gritos
e se chamavam nomes odiosos
não invento nada vi-o crescer comigo

chorava então desabaladamente
e eu com ele sentindo-nos perdidos
o cobertor puxado sobre a cabeça
seria trágico se não fosse ridículo

mesmo depois a noite que urinasse
no pijama era um protesto civil
encharcou assim grande parte das Beiras
não lhe perguntem se foi feliz"

Um tal Fernando Assis Pacheco
1937-1995
(poema em "Respiração Assistida", escrito no ano da sua morte)

19 comentários:

Mr. Lynch disse...

Bettips;
Quase que revejo nestas imagens a paisagem do Tejo que circunda a cidade onde habito. Triste e avassalador...
Fernando Assis Pacheco: excelente.

Anónimo disse...

Título e imagens sugestivos para a palavra de um poeta inesquecível.

Teresa Durães disse...

algumas recordações de infância são mais difíceis

Fá menor disse...

No leito seco de um rio que foi vida...

Bjs

despertando disse...

Quando vens ao meu blog deslizar pelas aguas do douro?
Deixo-te um beijo.
Como sempre os teus sitios sao lindos

mdsol disse...

Bettips

Reconheço que a "Nini dos meus 15 anos" do Fernando Assis Pacheco me fez tão feliz quando eu era miúda que muitas vezes me "tapa" o resto da sua obra!
Que bom ler!
beijinho!

:))

MIRÓBRIGA E O ALENTO (EJO) disse...

como sempre, que bem ficam contigo a palavra e a imagem

jorge esteves disse...

Uma poesia que não fenece; uma memória que prevalece.


abraços!

rach. disse...

Não gosto de spas. Gosto de rios, de cidades aí bordadas. Ao ler o teu pináculo lembrei-me, sem querer, dos versos de Gedeão; as tuas imagens pinaculares trouxeram-me a nostalgia dessa cidade que amo. E foi um desfilar de cores, de sons… um regresso a um tempo tão bom.
Hoje, um outro rio. Da janela do meu quarto vejo o Tejo, que no dizer de Pessoa, pelo qual se chega à América, embora eu sonhe Barcelona, Paris, Praga…
Enfim, rios e peregrinos…

Beijinhos

rach. disse...

roubei-te uma imagem de Paris. desculpa...mas estava mesmo a pedi-las

:0)

Alien8 disse...

Bettips,

Recordando Assis Pacheco e as vidas realmente breves, entristeci, apesar das imagens e da beleza do post no seu conjunto.

Um beijo.

Myriade disse...

Adoro as tuas fotos sensiveis que mostram a beleza inherente nas coisas que normalmente nao consideramos belas como a lama ou a madeira podre ou tantos outros detalhes ......

Justine disse...

Amiga, como as tuas fotos ilustram perfeitamente as palavras cruas e secas do poeta(às vezes temos de pedir emprestadas as palavras aos poetas...)

Alberto Oliveira disse...

... se os poetas que já partiram mas ainda estão connosco soubessem que lhes pedimos emprestadas as palavras cocluiriam: "Afinal, alguma coisa de útil fizemos pelos que ficaram."

E o que fazem os poetas, senão cantarem as nossas mágoas, alegrias, derrotas e vitórias? Por isso, ainda vou mais longe: as palavras dos poetas, são tanto deles como nossas. A diferença é que eles são poetas... e eu não me importava nada de o ser.

bjs e sorrisos.

M. disse...

É bom quando se regressa da ausência e se encontra aqui este poema tão bonito em diálogo com o teu olhar fotográfico primoroso.

Arábica disse...

Bettips,


a beleza das sinergias, nos seus diversos afluentes...

quando...?


Beijos, amiga

jawaa disse...

Sabes que havia um rio - um dos rios da minha infância - que se chamava Quando? Tinha uma praia fluvial, uma barragem (que fornecia electricidade para a minha cidade), havia por lá uma Missão Católica... era um dos destinos dos passeios de domingo.
Bjinho

Anónimo disse...

Breve foi o tempo do nosso Fernando, na verdade.

Bem lembrado: porque será que alguns tanto duram?
Talvez por o seu tempo de vida estar na razão directa e inversa da saudade que deixam...

Anónimo disse...

Claro que me refiro só a alguns deles... Os tais que não deixam saudade