Pelo caminho da infância, lembrei o poeta e o livro "A Velhice do Padre Eterno". Guerra Junqueiro. A edição que havia em casa era antiga e excomungada, certamente. As figuras deliciavam-me a imaginação: serpentes, mundos, frades anafados de hábito, um Deus antigo de longas barbas e ar prazenteiro.
Figuras de Bordalo Pinheiro em poemas poderosos.
Anti-clerical, profundamente moderno na sua apreciação, Guerra Junqueiro ainda hoje me faz rir com as suas ladaínhas:
"...
Santa Intrujice - entrega as almas toscas
Santa Intrujice - às nossas artimanhas...
Santa Intrujice - Deus destina as moscas
Santa Intrujice - a papo das aranhas.
S. Venha-a-nós - realiza este desejo,
S. Venha-a-nós - ingénuo e timorato:
S. Venha-a-nós - faz do universo um queijo
S. Venha-a-nós - e faz de nós um rato!
..."
(Atrevo-me a pensar nas multinacionais e no seu credo!)
Para a noite, a ironia do medo:
"O Papão
As crianças têm medo à noite, às horas mortas,
Do papão que as espera, hediondo, atrás das portas,
Para as levar no bolso ou no capuz dum frade.
Não te rias da infância, ó velha humanidade,
Que tu também tens medo ao bárbaro papão,
Que ruge pela boca enorme do trovão,
Que abençoa os punhais sangrentos dos tiranos,
Um papão que não faz a barba há seis mil anos,
E que mora, segundo os bonzos têm escrito,
Lá em cima, detrás da porta do infinito!"
Voz forte e sarcástica, imagino-o hoje a ser declamado no belíssimo coreto do jardim. Os seus poemas são para ser lidos em voz alta e de alto.
E que actual seria.
6 comentários:
Ah...ah...ah...ah!... Que ironia, menina.
(não cores,por favor. Talvez parte do que sentiste seja verdade. :-0)Mas deixa-te estar, porque ao teu jardim eu vou de mansinho, descalça, se me estenderes a mão. São manias de quem se isolou e tem medo de que lhe coloquem a fasquia alta demais.Pedem que tire a máscara, mas não sei qual, nem sei o que querem dizer. A timidez em mim, é defeito e feitio)
Amiga be quando puderes passa pelo meu blog.
Beijinhos
jardim da estrela!!!!!!
quantos dias não estive aí. não conhecia as palavras.
beijos
No coreto do Jardim, sentada na relva, uma banda de "Dixie Land Music" a tocar. Vieram da direita, subiram e o sol queimava os braços. Ah! Tão bom!! Não sei se já tinha o David ou não! Foi na altura em que andava atrás de todo o Jazz.
E neste jardim andei de um lado para o outro enquanto a Sara tentava sair :)))
Teresa, gostei muito que tivessemos caminhado no mesmo sítio! Eu, tu, filhos e milhares de dias entretanto... acho que há muitos jardins e vários nós, tantas vezes, tanto longe. E no entanto, árvores conhecem-nos!
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