sábado, maio 10, 2008

Escritos




Muitas vezes apetece transmitir uma homenagem. Uma flor, uma palavra, um pensar alto, escrito ou dito. Há sentida uma tal dicotomia entre o cristal - que suponho ser - do coração, o espírito, os olhos, que tudo se torna vertiginoso e próximo.

Em lento e parco conhecimento em que as sociedades e os grupos nos cerceam.
(cercear é "cortar ao redor, aparar em volta" e não podia ser mais assim).
Este é um texto duma amiga de acaso (em pedras a (re)conheci) a quem pedi emprestado o lugar que me comoveu:

"A prisão de Tessalónica

Numa parede de uma pequena cela da ex-prisão de Tessalónica (hoje sede da Secretaria de Estado da Cultura), encontrei as seguintes frases de uma prostituta que aí esteve presa (com um desenho infantilizado do bordel onde tinha trabalhado):

- Quem nunca se angustiou, é feliz -
- O pássaro encontra a Morte nas asas -
- Os cervos encontram a morte quando vão beber água -

Nunca me esquecerei do espaço e das palavras que li."
Texto de MFB, no seu lugar enluarado.

24 comentários:

mac disse...

Sábias palavras as dessa mulher...A experiência de vida ensinou-a muito.

A Lusitânia disse...

Lindo o teu ninho, as pedras construídas e as palavras gravadas na parede da prisão. Gostei tanto de te rever aqui

Zé-Viajante disse...

Escritos.
E muito bem escritos.
Belos.

angelá disse...

Perante algumas frases fico em silêncio, pensando...

Beijo

mena maya disse...

Palavras fortes de alguém a quem compraram o corpo, mas não a alma...

Ficam na realidade gravadas a fogo na memória, estas palavras!

jlf disse...

Verdade: de múltiplos espaços e de inúmeras palavras se enriquece a nossa memória!
Mas convem não esquecer que outros tantos espaços e outras tantas palavras, quantas terríveis recordações, acorrentam a memória de tantos desesperados...

Teresa Durães disse...

gostei destes escritos e d homenagem

un dress disse...

escritos de ligação

à vida ao

quotidiano...

duma aprendizagem

para reflectir.




beijO

Justine disse...

O lugar é comovente,as palavras exaltantes, a homenagem bela. Como as pedras, como as asas de um pássaro

teresa g. disse...

Numa situação dessas não se atiram palavras fora...

A pedra é dura e não deixa mentir.

Bjinhos, boa semana!

Manuel Veiga disse...

e a agora que a prisão de Tessalónica é Cultura, quais a citações que perduram? dir-me-ás...

belo.

A Lusitânia disse...

Vi o lugar. Fiquei sem voz, sem memória. Apenas ficaram as palavras escritas na parede.
Que Cultura se fará a partir daí? Não sei dizer. Para mim o lugar ficou tão somente assim.
E o que a Bettips belamente conseguiu dele fazer.

Maria Laura disse...

Palavras aprendidas na dor duma vida difícil. Palavras a serem incorporadas na cultura. Isso parece-me certo.

Alberto Oliveira disse...

... nas homenagens sou mais para o dito, porque no escrito, escorrego nas letras, atrapalho-me na pontuação e a ideia de não ter deixado no papel o essencial, deixa-me infeliz. Ah! e a flor também é uma solução que previligio...
Tu tens as palavras certas para o momento (não, não é uma homenagem, é uma constatação) e invejo-te (risos) a facilidade -que se entende sincera, como o fazes.

Sobre "A prisão de Tessalónica", quem não se comove com o cativeiro de uma prostituta com pensamentos que superam largamente os dos seus esbirros?

abraço.

Eremit@ disse...

Reconheci logo Miróbriga.
Ainda moem farinha que vendem em pequenos "talegos"?
Há muitos anos comprei lá com os netos mais velhos que os outros nem nascidos eram. E as frases ficam retidas nos olhos a esvoaçar...
Fraterno abraço

velha gaiteira disse...

quanta verdade, quanta sabedoria!

abração

~pi disse...

pon ^^ teS

tufa tau disse...

alguém com o coração à flor da pele

Mar Arável disse...

Nem toda a água

é água de beber

butterfly disse...

As pedras são parecidas com a alma; a única diferença é a de deixarem, sem pudor, exporem-se a estranhos olhares.
Gostei, como sempre.

Era uma vez um Girassol disse...

Belo...
Sem sono aprecio o teu texto e imagens, sempre de grande significado.
Pois, é o nosso mês...
Também te abraço e espero o dia da festa aqui....
bjs

G.A.M.N.A.A. disse...

Este é o blogue do GAMNAA.
Dê-nos sugestões!

Gratos

João Videira Santos disse...

Comento as fotos, os textos com apreço. Agradeço a sua visita ao "meu" Maio de 68, aos Maios que o homem, teimosamente, quer diluir no tempo e apagar na memória...Felizes aqueles que erguem a palavra e contra a hipocrisia dizem de sua justiça.
Obrigado, pelo seu comentário e volte sempre! Estou onde os sentimentos vivem em permanente revolta!

bettips disse...

Que escreveríamos, prisioneiros de nós, nas paredes?