(a 1ª foto da escultura é minha, a segunda, da Secession, foi tirada de um postal)
"Silence is a source of a great strength": Lao Tzu, filósofo chinês taoísta, c. 600 a.c.
Este silêncio produtivo da força, não é o meu nem o da fotografia no PPP, há semanas.
A escultura de Mark Wallinger, a que ele chamou "Ecce Homo", estava exposta na Secession, em Viena (ano 2000) e foi a minha proposta para a palavra "Silêncio".
Uma imagem chocante e impiedosa que eu considero tão actual. E por isso me veio à memória, instantâneamente. O momento em que alguém "lava as mãos" e se apresenta o Homem - a humanidade, em cada um - sózinho e dependente de veredictos dos senhores do poder. Senti, na sua presença despida, o espanto, um horror já adormecido e mudo, porque inútil, frente ao destino adivinhado.
Uma solidão calada que acontece quando não há mais vozes, numa descida ao fundo de nós. Apesar da luz, apesar da porta, fica-se nu e emparedado, em silêncio, face à indiferença dos juízos.
14 comentários:
Imagem arrepiante e, no entanto, tão humana.
Belo texto.
Querida Bettips, escolhe um presente no girassol...
Apesar de virtual!!!
Beijinhos
A primeira foto ficou a "pesar-me" nos ombros....
Excelente post, Bettips...
Beijinho
Como Lao Tzu tinha razão!
Quantas vezes o silêncio não gera uma tensão extraordinária?!
Vemos isso tantas vezes na vida!
Como o que antecede, deixando-nos suspensos, um acontecimento, uma decisão, algo anunciado ou adivinhado que transforma a expectativa numa ansiedade quantas vezes atroz!
Silêncio gritante.Muito belo.
Impressionante imagem.
"um horror já adormecido e mudo, porque inútil, frente ao destino adivinhado"
E continuamos mesmo vivos? Por vezes duvido. Mas dizia o Calderon:
"A vida é sonho"
Beijos e muito bom dia. :)
Bate forte esta imagem que mais do que de silêncio me parece de solidão. Mas não é por uma imagem que sentimos a envolvência.
Ai, ai querida B.
Bateu, forte bateu.
Bateu mesmo.
É assim que estamos de facto, SÓS.
Mas de uma solidão dependente, a pior das solidões.
Não uma solidão escolhida, desejada, de força ou fortalecimento.
Cada um de nós só consigo mesmo, confrontado consigo mesmo, e no entanto sem escolha.
Dolorosamente só e inevitavelmente dependente do veredicto de quem observa e usa a nossa solidão.
Olhamo-nos, vemo-nos, interiorizamo-nos e nada podemos fazer contra os invisíveis que decidem dos nossos destinos.
A não ser...
Abrir os olhos e ver, olhar para dentro e para fora.
Abrir a boca e falar, beijar, lamber, saborear, engolir
Abrir os ouvidos e escutar, a voz interior e todas as vozes do mundo
Abrir as narinas e cheirar, os cheiros nauseabundos da putrefacção que se espalha mas sentir também os perfumes, das flores, da terra, do cheiro a mar, da chuva, da pele de quem amamos, da nossa própria pele.
Abrir os poros e tocar e deixar todas as sensações inundar-nos de vida, tocar em nós, tocar o amor, tocar o mundo e deixar que tudo nos toque.
Abrir o coração, abrir cada vez mais, alargar, alargar e sentir tudo, tudo, tudo
Abrir a alma e elevá-la, deixa-la voar.
Abrir a mente e alargar horizontes, aprender, reaprender, mudar, modificar, construir, destruir, reconstruir
O que eu quero dizer no fundo querida B é que há que manter a "perseverança" (PPP)
Há que continuar acordado e de pé ainda que só e sem independência.
Há que continuar em alerta desperto, de olhar aberto para dentro e para fora.
E que esse silêncio impiedoso e tão actual como dizes nos fortaleça e nos torne melhores e mais piedosos connosco e com o próximo em vez de cairmos no erro de nos deixarmos tomar pela desilusão mudos e inúteis como nos querem fazer.
Não ficarei emparedada enquanto a minha mente e o meu coração continuarem a transpor paredes.
Tu também não.
Eu sei.
O teu olhar vai até onde não vais.
A tua mente viaja.
A tua alma voa.
O teu coração alcança mesmo o que não vês.
A tua pele sente mesmo o que não tocas.
Eu sei.
Um abraço enorme.
Tua amiga com saudades
Isabel
PS: desculpa ser sempre tão extensa mas não consigo evitar.
Está na minha natureza, como diz a história do escorpião e do crocodilo que eu tanto adoro.
Este é um retrato de nós mesmos numa grande cidade. Sentimo-nos isolados, sós, caminhando sem a ajuda de alguem, sem um calor humano...
Retrato da sociedade actual...
A primeira foto mete um cadinho de impressão... a mim.
Ecce Homo! tão frágil. e desamparado. na sua solidão abissal.
Muito bonita esta simbiose de efeitos..parabéns..um abraço..
'Uma solidão calada que acontece quando não há mais vozes, numa descida ao fundo de nós.' Será aí a fonte da força? E no entanto a descida ao fundo às vezes mais parece a descida ao abismo... assustadora, como a solidão que a acompanha.
Beijos
Gostei do que que aqui encontrei! Posso deixar um convite?
http://www.escritartes.com/forum/index.php?referredby=3
Não consigo acrescentar mais nada ao que aqui já foi dito.
Uma imagem que tem tanto a ver com cada um de nós.
Um beijinho grande
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