quarta-feira, novembro 07, 2007

Silêncio


(a 1ª foto da escultura é minha, a segunda, da Secession, foi tirada de um postal)

"Silence is a source of a great strength": Lao Tzu, filósofo chinês taoísta, c. 600 a.c.

Este silêncio produtivo da força, não é o meu nem o da fotografia no PPP, há semanas.
A escultura de Mark Wallinger, a que ele chamou "Ecce Homo", estava exposta na Secession, em Viena (ano 2000) e foi a minha proposta para a palavra "Silêncio".
Uma imagem chocante e impiedosa que eu considero tão actual. E por isso me veio à memória, instantâneamente. O momento em que alguém "lava as mãos" e se apresenta o Homem - a humanidade, em cada um - sózinho e dependente de veredictos dos senhores do poder. Senti, na sua presença despida, o espanto, um horror já adormecido e mudo, porque inútil, frente ao destino adivinhado.

Uma solidão calada que acontece quando não há mais vozes, numa descida ao fundo de nós. Apesar da luz, apesar da porta, fica-se nu e emparedado, em silêncio, face à indiferença dos juízos.

14 comentários:

Era uma vez um Girassol disse...

Imagem arrepiante e, no entanto, tão humana.
Belo texto.
Querida Bettips, escolhe um presente no girassol...
Apesar de virtual!!!
Beijinhos

Maria disse...

A primeira foto ficou a "pesar-me" nos ombros....
Excelente post, Bettips...

Beijinho

jlf disse...

Como Lao Tzu tinha razão!
Quantas vezes o silêncio não gera uma tensão extraordinária?!
Vemos isso tantas vezes na vida!
Como o que antecede, deixando-nos suspensos, um acontecimento, uma decisão, algo anunciado ou adivinhado que transforma a expectativa numa ansiedade quantas vezes atroz!

Zé-Viajante disse...

Silêncio gritante.Muito belo.

Madalena disse...

Impressionante imagem.

"um horror já adormecido e mudo, porque inútil, frente ao destino adivinhado"

E continuamos mesmo vivos? Por vezes duvido. Mas dizia o Calderon:

"A vida é sonho"

Beijos e muito bom dia. :)

myself disse...

Bate forte esta imagem que mais do que de silêncio me parece de solidão. Mas não é por uma imagem que sentimos a envolvência.

Isabel disse...

Ai, ai querida B.
Bateu, forte bateu.
Bateu mesmo.
É assim que estamos de facto, SÓS.
Mas de uma solidão dependente, a pior das solidões.
Não uma solidão escolhida, desejada, de força ou fortalecimento.
Cada um de nós só consigo mesmo, confrontado consigo mesmo, e no entanto sem escolha.
Dolorosamente só e inevitavelmente dependente do veredicto de quem observa e usa a nossa solidão.
Olhamo-nos, vemo-nos, interiorizamo-nos e nada podemos fazer contra os invisíveis que decidem dos nossos destinos.
A não ser...
Abrir os olhos e ver, olhar para dentro e para fora.
Abrir a boca e falar, beijar, lamber, saborear, engolir
Abrir os ouvidos e escutar, a voz interior e todas as vozes do mundo
Abrir as narinas e cheirar, os cheiros nauseabundos da putrefacção que se espalha mas sentir também os perfumes, das flores, da terra, do cheiro a mar, da chuva, da pele de quem amamos, da nossa própria pele.
Abrir os poros e tocar e deixar todas as sensações inundar-nos de vida, tocar em nós, tocar o amor, tocar o mundo e deixar que tudo nos toque.
Abrir o coração, abrir cada vez mais, alargar, alargar e sentir tudo, tudo, tudo
Abrir a alma e elevá-la, deixa-la voar.
Abrir a mente e alargar horizontes, aprender, reaprender, mudar, modificar, construir, destruir, reconstruir
O que eu quero dizer no fundo querida B é que há que manter a "perseverança" (PPP)
Há que continuar acordado e de pé ainda que só e sem independência.
Há que continuar em alerta desperto, de olhar aberto para dentro e para fora.
E que esse silêncio impiedoso e tão actual como dizes nos fortaleça e nos torne melhores e mais piedosos connosco e com o próximo em vez de cairmos no erro de nos deixarmos tomar pela desilusão mudos e inúteis como nos querem fazer.
Não ficarei emparedada enquanto a minha mente e o meu coração continuarem a transpor paredes.
Tu também não.
Eu sei.
O teu olhar vai até onde não vais.
A tua mente viaja.
A tua alma voa.
O teu coração alcança mesmo o que não vês.
A tua pele sente mesmo o que não tocas.
Eu sei.

Um abraço enorme.

Tua amiga com saudades

Isabel

PS: desculpa ser sempre tão extensa mas não consigo evitar.
Está na minha natureza, como diz a história do escorpião e do crocodilo que eu tanto adoro.

mac disse...

Este é um retrato de nós mesmos numa grande cidade. Sentimo-nos isolados, sós, caminhando sem a ajuda de alguem, sem um calor humano...
Retrato da sociedade actual...

Aragana disse...

A primeira foto mete um cadinho de impressão... a mim.

Manuel Veiga disse...

Ecce Homo! tão frágil. e desamparado. na sua solidão abissal.

Bichodeconta disse...

Muito bonita esta simbiose de efeitos..parabéns..um abraço..

teresa g. disse...

'Uma solidão calada que acontece quando não há mais vozes, numa descida ao fundo de nós.' Será aí a fonte da força? E no entanto a descida ao fundo às vezes mais parece a descida ao abismo... assustadora, como a solidão que a acompanha.

Beijos

PoesiaMGD disse...

Gostei do que que aqui encontrei! Posso deixar um convite?


http://www.escritartes.com/forum/index.php?referredby=3

Ana Ramon disse...

Não consigo acrescentar mais nada ao que aqui já foi dito.
Uma imagem que tem tanto a ver com cada um de nós.
Um beijinho grande